13 de ago. de 2007

O dia em que quase desisti

Era uma linda manhã de sábado. O grupo havia combinado de se encontrar às 9h em um posto de gasolina. Chego um pouco atrasada, às 9h15, mas apenas duas pessoas estavam lá, os outros também estavam atrasados, para minha tranqüilidade.

Aos poucos, o pessoal ia chegando, comentando sobre os equipamentos e discutindo o roteiro do dia, e eu, assustada com toda aquela “disposição”, e sem saber ao certo o que me esperava, tentava disfarçar minha ansiedade. Os veteranos ciclistas comentavam sobre a possibilidade de pedalarmos por estradas rurais até a cidade de Araras, ida e volta resultariam em, aproximadamente, 60 quilômetros. Tentando convencê-los de minha inexperiência neste tipo de esporte, argumentei que talvez fosse melhor pegar leve em minha “segunda vez”. Eles concordaram e decidiram por um trajeto menor e mais leve (não sei até que ponto), de apenas 35 quilômetros.

Bruno iria me emprestar uma bike que, para ele não servia mais, porém a uma iniciante, estava de ótimo tamanho. Fomos até sua casa, deixo meu carro e ensaio minhas primeiras pedaladas, meio descompassadas, inseguras, rumo à aventura do dia. E que aventura!

Éramos um grupo de oito ciclistas, ou melhor, sete ciclistas e uma aspirante. Detalhe: eu era a única mulher do grupo, pois a Marina amarelou rsrs! Todos se ajeitam, colocam seus capacetes e partem ao roteiro escolhido, o pico do Morro Azul.

É muito interessante pedalar com entendidos no assunto. Os meninos têm todo um arsenal do esporte, levam equipamentos para o caso de algum imprevisto, conhecem os melhores trajetos, dão dicas de postura, respiração, explicam a mecânica da catraca e coroa e indicam o momento correto de utilizar as marchas, a fim de tirar proveito das descidas e subidas.

Logo no início do trajeto, na estrada de chão batido sentido alto do Morro Azul, havia pedalado por volta de cinco quilômetros apenas, exausta, paro. Sinto meu coração disparar, a respiração fica cansada, densa e resolvo sentar no chão, mas neste momento, sinto algo parecido com pressão baixa, enjôos e tenho a convicção de que não vou conseguir continuar a aventura.

O amigo Paulo está comigo, espera minha recuperação, explica que a sensação de cansaço pode estar relacionada à respiração incorreta, argumenta que no início é assim mesmo e logo, logo estarei melhor de novo. No início do trajeto, por duas vezes penso em desistir, sento no chão e comento com Paulo “é muita pretensão querer acompanhá-los, vocês têm um condicionamento muito melhor que o meu”.

De fato, se fosse uma pessoa sedentária, não praticasse atividades físicas ou tivesse algum problema de saúde, realmente deveria me preocupar, mas não é o caso. Sou extremamente ativa, sempre pratiquei exercícios e sou acostumada a longas caminhadas.

No momento em que achei que não iria agüentar, mais do que cansaço físico, minha maior dor era ter que voltar, desistir... Senti uma enorme frustração e tenho certeza de que carregaria isso por muito tempo. Descansei, recuperei minhas energias e continuei, com a certeza de que respeitaria meu limite físico e pararia para descansar, quando necessário. Após isso, pedalamos por mais 30 quilômetros, aproximadamente. Empurrei a bicicleta quando não consegui pedalar, sempre com o respaldo de algum amigo dividindo a lanterninha do grupo comigo, me apoiando e orientando.

O mais interessante é que nos próximos 30 quilômetros, em nenhum momento, senti a estafa do início do trajeto, fiquei muito cansada sim, no final, empurrei a bike por algumas vezes, mas nada comparado ao estresse inicial. A lição que tirei dessa experiência é de que nossa mente pode ser responsável por boicotar nossos objetivos. No início, visualizando a imensidão de estradas que teria que pedalar e assustada com as monstruosas subidas, minha mente enviou ao meu corpo a mensagem de que estaria exausto e não teria a menor condição de continuar. Mas ela estava errada!

Valeu a pena superar mais um desafio, valeu a pena estar entre amigos, valeu a pena sentir a leve brisa batendo em meu corpo, valeu a pena apreciar a mãe natureza e sentir a fria e cristalina água da cachoeira. Valeu a pena olhar para trás, após uma imensa subida e enxergar o tamanho da coragem, da capacidade, da conquista...

Agradeço a dedicação dos meninos, que estiveram ao meu lado, me “guincharam”, comentaram sobre suas experiências iniciais que também não foram muito diferentes da minha e, principalmente, acreditaram que eu poderia integrar a equipe!

A todos: Bruno, Paulo, Cássio, Thomaz, Alan, Pedro e Juruna, obrigada por tudo, e, até a próxima!

8 comentários:

Anônimo disse...

Lembra o que te falei quando estavamos subindo o morro?
Pois é, quando olhamos para trás, percebemos o quão longe podemos chegar...
Bjão...

Anônimo disse...

No Pain, No Gain!

Audrey Salatti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandra Alves disse...

Amiga, eu é que quero que você tenha uma bike pra me acompanhar nessas aventuras hehehe

Audrey Salatti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Audrey Salatti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ola Sandra,

Em experiências como essas a gente notar várias pontos interessantes como iniciativa, organização, liderança, companheirismo, e até acaba se conhecendo melhor...

Também passei por um caso semelhante, quando eu estava na faculdade.
Uma vez uns amigos decidiram fazer uma pequena viagem ida e volta de bike de Guaratingueta á Campos do Jordão, e assim começaram a buscar rotas de viagens, tempos, recursos necessários. Tiveram INICIATIVA, algo bastante importante nos dias de hoje.

Logo após definido a rota, os recursos necessários, a data, etc, iniciaram a preparação física (os que não andavam muito) e também a fazer uma dieta específica... ingerir mais alimentos com potássio, no caso bananas, para evitar caimbras durante a viagem. Ou seja, tiveram uma ORGANIZAÇÃO.

E também convidaram algumas pessoas para viajarem junto e recomendaram a mesma preparação, ou seja, percebia-se a LIDERANÇA na equipe.

Algum tempo se passou e restava apenas uma semana para a partida e nesta semana me comentaram do plano da viagem e me convidaram. E eu aceitei. Bom neste caso é um exemplo de LOUCURA, já que me disseram que percorreriam por volta de uns 120 km em 1 dia. Bom, mas como costumava a andar bastante a pé e de bicicleta na cidade, no entanto, não viagens longas desse tipo, achei que poderia tentar acompanhá-los.

É chegada a data e as 5:00 da manha o pessoal se reune no ponto combinado. Eram por volta de umas 12 a 15 pessoas.

Após percorrer os primeiros 5 a 10 km, ainda próximo da saida da cidade, umas 2 pessoas param a equipe e comunicam que não vão conseguir acompanhar. Todo o pessoal tenta fazê-los mudar de idéia mas sem sucesso, desta forma em um pequeno trajeto já tivemos a primeira baixa.

Mais tarde após percorrer uns 20 a 30 km, já em uma cidade vizinha, mais 2 pessoas comunicam que vão desistir e retornar. A equipe tenta convencê-los a continuar, no entanto, novamente sem sucesso. Pois o argumento de que eles terão que voltar os 20 e tantos quilômetros em relação aos 100 que faltam não os converam :).

Aos que restaram, um lema que foi dito e até hoje é um marco. "Não aguenta?!?! Então por que veio?!?!?!" Esta frase é um tanto que interessante. Ao mesmo tempo que parece te por para baixo, ao mesmo tempo te provoca para continuar a tentar. É claro que depende muito do tom que é falado. Bom essa frase me ajudava a continuar a tentar cumprir o trajeto.

O estranho que durante a viagem eu não me preocupava com toda a distancia que eu teria que percorrer. Na verdade eu não pensava em nada. Deve ter sido por isso que eu fui =). Talvez se tivesse pensado bem eu nunca tivesse ido. Eu confiava no pessoal que tinha organizado a viagem e que era algo possivel. O pessoal transmitia essa idéia.

Mais na metade do caminho, no meio da serra ocorreu um acidente. Um dos integrantes tem a roda travada por uma blusa e ocorre um "capote". Entorta-se a roda e assim diminuimos um pouco o ritmo da viagem. E um pouco mais a frente, na pequena trilha que a gente estava passando, uma moto passa em alta velocidade ao nosso lado, fazendo com que quase todos perdessem o equilibrio. E infelizmente um de nos cai e se machuca um pouco, ficando prejudicado para pedalar. E então seguimos devagar até a próxima cidade para que ele pudesse ligar para um parente para que fosse buscá-lo. E como ele não ia mais pedalar ele emprestou uma roda para o primeiro que teve a roda danificada para que o mesmo pudesse continuar a viagem. Durante toda a viagem percebeu se o COMPANHEIRISMO, um se preocupando com o outro, um auxiliando o outro para que pudessem dar o melhor de si.

Foi uma viagem complicada até chegar a Campos do Jordão, várias baixas.
Já era por volta de 12:00, não podiamos desfrutar da cidade, nem almoçar direito, pois ainda tinhamos um longo caminho de volta. Somente faziamos pequenas pausas para pequenos lanches de facil digestão.

Para o retorno, estava definido a volta pelas estradas asfaltadas.

Novamente mais umas loucuras. Agora descendo a serra... Os que tinham odômetro diziam que estavamos chegando de 50 a 60 km/h. Acompanhavamos alguns carros, passavamos caminhões... Só depois de feito a ousadia a gente pensava... se um tivesse caido a essa velocidade... teria sobrado pouco...

Bom, continuando... e em Pindamonhanga tivemos mais uma baixa, 1 membro decide voltar de onibus pois não aguentava mais pedalar. Já estava chegando no limite fisico, não havia muito o que se fazer ou dizer para que continuasse...

Após uma longa viagem estavamos próximo de Aparecida do Norte, faltava uns 30 km para chegar em casa. Já estava ficando um pouco escuro e poderia ficar perigoso andar na estrada... apenas 1 pessoa tinha uma lanterna na bicicleta. Sendo assim, decidiu que quem tivesse um pouco de folego sobrando, que fosse na frente, para tentar chegar enquanto fosse claro. Apenas um amigo e eu fomos na frente. Incrivel mas estava com pique. Mas logo descobri que não era o suficiente. Conversando com esse amigo, ele me contou que para ele não faltavam apenas 30 km para chegar na casa dele... e sim 50 km pois ele morava em Lorena. Haja pique. Após uns 15 min pedalando ele apertou o passo pois disse que se não fizesse isso, nao chegaria a tempo em casa. Eu tentei acompanhá-lo mas foi possivel por apenas alguns minutos, logo ele se distanciava... e eu comentava que ele deveria continuar.

Agora estava só. Tinha um rapaz bem a frente... e um pequeno grupo bem atras. Hum... acho que foi só nessa hora que comecei a pensar o que eu estava fazendo... e que ainda faltava uns 15 km para chegar, e os mesmos 15 km pareceram os piores. Já estava meio assado e cansado. Mas mesmo assim continuei, pois não adiantaria parar. E não me entregaria assim no final.

Bom... Após uma longa viagem chego em casa exausto já era quase a 8h-9h da noite... Foi uma viagem marcante...

Naquele dia percebi o que a gente é capaz e que se ninguém disser que você não é capaz você faz coisas que não imagina...

Uma coisa impressionante... é que no dia seguinte eu tinha aula... e estava 100% bem... sem dor, sem cansaço =)

Sandra, realmente, a mente pode enganar a gente... mas espero que sempre tenhamos amigos que nos ajudem a enxergar o que não conseguimos ver...

Anônimo disse...

Pelas mãos dos amigos...

O que acho mais fantástico disto tudo é o quanto fazemos pelas mãos dos amigos, as vezes literalmente, seja puxando o guidão da bicileta ou nos alçando morro acima...às vezes não são só as mãos mas as palavras: "Vamos você consegue..." Em tempos de tanta competitividade, isto soa como música...A amizade nos amplia os horizontes, nos faz chegar mais longe, ou ver o quanto maravilhoso é estar por perto...